Seis horas da manhã, ela estava prestes a acordar. A imensa cama refletia um pouco do seu egoísmo. Em sutis movimentos curvava-se de um lado para o outro e aos poucos suas pálpebras indicavam o despertar. Seu olhar vagamente direcionava-se para aquele feixe de luz apontado nas frestas da janela, o que denunciava que já era dia, logo acima, o relógio confirmava a suspeita. Ela não admitia que em pleno domingo alguém precisasse levantar tão cedo. Irritada, virou-se em movimento brusco para o lado contrário ao do relógio. Tentava não pensar em nada e voltar a sua jornada de sonhos, mas, pensando em não pensar ela estava pensando, o que a impedia de prosseguir sonhando, ou fugindo. No entanto, ela não tinha do que fugir, afinal, sua vida era milimetricamente comandada por ela mesma e esse fato fazia com que ela sentisse uma admirável superioridade. Sem mais sono decidiu levantar e encarar a realidade – no dia anterior despedira a empregada pois, sentia-se sufocada, como se o seu espaço estivesse sido, injustamente, não só invadido, mas, ocupado por completo – preparou seu café ainda chateada por ser impedida tão cedo de continuar dormindo, serviu a mesa e à mesa se serviu. Pensou que agora livre de qualquer presença que não fosse a sua poderia, enfim, arrumar o apartamento que chamara de seu e a vida que também chamara de sua. Decidiu desligar os aparelhos telefônicos para não ser incomodada, fez mais, desligou todos os aparelhos sonoros para que o único som que pudesse ouvir fosse o do silêncio, afinal, ela precisava de privacidade. Certa da mais completa liberdade começou a arrumação, partindo do seu quarto até o seu banheiro, sua sala... até que quase no fim da arrumação já na despensa, percebeu – com a angústia de quem perde algo extremamente precioso – a presença de um inseto – que até hoje não se sabe se era uma grande formiga ou uma pequena barata – e com um grito interno murmurou que tudo o que era seu, na verdade, nunca existiu. Algum tempo depois, recuperada, do susto e da descoberta, ela olhou em volta, e daquele minúsculo quarto se retirou com ar de riso. Seguiu em direção ao banheiro, tomou um banho, vestiu uma roupa e saiu. Desde então não se teve mais notícias dela.
(Talvez ela tenha compreendido que o seu vazio preencheu todo o seu espaço e que sua solidão não admitia nenhuma companhia, ou talvez não.)
5 comentários:
depresããããão!
humm...
desligou os celulares?
mandou todo mundo embora?
sei nao, viu? isso me lembra alguém....
é que silêncio e vazio, às vezes, enchem.
bjosss!!
difícil seria encontrar solidão sem companhia!
Pronto!
Ou não!
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